Monday, May 11, 2009

Memória - 01.

03.

No carro, na volta, ela perdeu a cabeça por duas vezes talvez.
Se culpa por isso todas as noites.
Gritou com ele.
Bem alto até sua garganta doer.
Para que ele parasse de cantar a tal música da baleia.
Gritou mais de uma vez.
Chorou.
Parou no acostamento e ficou por meia hora para fora.
Não sabia mais o que fazer.
Ele não reagia, apenas cantava aquela canção.
Cada vez mais alto.
Balançava seu corpo para frente e para trás.
Ela quase desistiu de chegar em casa.
E quando isso aconteceu, disfarçou aos vizinhos.
Pensou “Vai passar”.
Mas, era apenas o início.
Da sucessão de movimentos repetidos.
Despido, banhava-se e saia. Corria.
Abria e fechava portas, janelas e gavetas.
A casa acabou ficando toda molhada.
Ele escorregava, caia e não chorava, mas se machucava.
Se machucavam e ele não percebia.
Quando ela conseguia, encostava,
pedia calma, tentava abraçá-lo para tranqüilizar.
Mas não havia jeito. Ele era fisicamente mais forte.
E quando descobriu a cozinha, ela escondeu dele o faqueiro.
Confiscou os fósforos e desligou o gás.
Nas quatro horas que se seguiram dedicou-se a enxugar
o piso da casa que ele molhava, escorregava,
caía, chorava e machucava.

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