Wednesday, November 12, 2008

Instruções de uso não estão na embalagem.













Acorda atrasada e pra variar sente-se exausta ao levantar.
Se pudesse ficava ali no lençol branco com o jornal espalhando,
tomando o sol da manhã e observando
as pombas que habitam o telhado ao lado.
Já são amigas.
Praticamente as únicas que visitam seu apartamento assim, tão cedo.
Sente seu cheiro no travesseiro.
Revisa os cabides com seus cortes em linho e algodão.
Você habita esta casa mesmo quando está no Rio.

Sai para correr ou nadar.
Tanto faz...
É só mais um exercício solitário.
Aproveita para pensar, colocar os afazeres do dia
em fila indiana, contabilizar, diagnosticar...
Chorar não dá porque não tem fôlego suficiente.
Aliás, é bem por isso que faz exercícios.
Para se desgastar de outra forma.
Seu médico homeopata riu dessa sua técnica.
Disse-lhe que não adianta, mas ela não descansa, prefere ao esforço.
Toma a pilula que encontra-se pendurada na maçaneta da porta.
É para não esquecer! Que não quer ter filhos no momento.

Nesta cidade.
Neste país.
Neste planeta.

Toma também 10 dez gotas de Lycopodium Clavatum 6CH
e isso, imaginem só, faz com que ela sinta-se muito,
mas muito melhor.
Só. Então sai para trabalhar.
Normalmente de vestido.
Segue sozinha. Sempre.
Ás vezes também para as aulas da Pós.
É quando fica em trânsito.
Aproveita para ler e escrever.
Desenhar vestidos, idéias, palavras.
Ouvindo as músicas novas que deixou
baixando madrugada adentro em seu computador.
Aprendeu isso com seu primeiro marido.
Sim, ela já se casou. Depois descasou, óbvio.
Divorciou dos sonhos deles.
E não foi nada fácil desconstruir as idéias
vagas que projetava para si.
Menos fácil ainda foi continuar a desenhar um futuro,
diante tantas possibilidades vazias de sonhos comuns.
Mas aprendeu que era preciso aprender estar só.
O que lhe é inviável.
Ela não consegue. Assumidamente não gosta.

Dizem os amigos:
“Lá vai Luiza amar outra vez.
Lá vai Luiza sofrer outra vez.”
Conseqüências...
Ou um dom.
Entrega-se.
Mesmo com toda dor, medo e
a cicatriz ali do lado esquerdo.
Ela bem nasceu para isso.
Não só pra isso, é lógico.
Mas faz disso um bem.
Faz bolos também, provoca risos,
chora facilmente, não dispensa um penne e
neosaldinas para sarar as dores que prefere guardar.
Cuidados internos.

Dela com ele.
Dele com ela.
Deles com eles.

E de repente, percebe-se leve.
É a primeira vez que está amando em equilíbrio.
Nem sabia que isso existia.
Sente prazer com a novidade.
Amando alguém novo, da sua idade.
A mando dos sentidos.
De outras formas. Outra turma.
De outra escola, de outras imagens... Dessa vez em movimento.
Alguém com quem ela tem coragem de fazer um filme.
Uma música ouvir continuamente e se emocionar para sempre.
Projetar coisas grandes, médias, pequenas;
inclusive as que falam e que por hora chamaremos de Lídia ou Lucas.
Alguém que caminha ao seu lado de mãos dadas.
Que faz os sorrisos serem quase permanentes.
Que já amou outro alguém e que ela não esconde, sente ciúme.
Alguém que gosta de comer presunto e que a fez pensar
que o amor é algo que também se come cru.
Não dá para esperar cozinhar nem mesmo esfriar.
Amor quando bom, não precisa nem temperar.
Ou agitar antes de usar.
Apenas é.
Um amor de verdade.

4 comments:

Rita said...

Que bonito.

Adriane Hagedorn said...

já estou até imaginando os lindos vestidos da lidia! e claro, os da catarina, que tbm usará ball's!

Anonymous said...

um novo amor de verdade ^^

Anonymous said...

Assisti você no Scrap Mtv e a minha curiosidade jornalistica me trouxe ao seu blog. Um dos mais interessantes que já conheci. Parabéns!!!