Monday, October 16, 2006

Chega de falar de coisas felizes, porque a verdade é que Luiza não sabe onde colocar suas mágoas.

Passo os dias pensando onde colocar tanta mágoa.
Tamanha a minha decepção com a vida.
Onde deixo meus maus pensamentos se não no desenho, no desejo, no pesadelo?
Não sei o que fazer com meu desgosto.
Meu osso.
Rui um zumbido ruim no meu ouvido que desce e dá um nó na garganta.
Meu ponto fraco.

E onde foi que você colocou nossa mágoa naquela manhã?
Por que a levou para passear no parque?
Para tomar sol.
Para lamber sorvete de morango.
Para contemplar uma lagoa falsa com peixes famintos por fandangos.
Como se atreve fingir que ela não lhe dói?
Não sei o que faço com as más lembranças que por
hora insistem em me mostrar o quão vivas estão.
Me rasgando por dentro.
Invadindo-me.
Doendo.
Me deixando de cama com o despertador tocando às sete.
Remoendo cada palavra, cada argumento,
cada gesto que faço força para esquecer.

Maldita memória.
Devo fugir de mim mesma?
Da minha história?
Preciso.
De um remédio. Uma droga. Um médico.
Uma porra qualquer.
Preciso de ajuda?

Mamãe disse que as coisas ruins a gente esquece.
- Apenas as boas ficam. São palavras dela.
Não acredito.
Talvez a pressa me faça descrente.
Mas minha mãe não mente.
Alivia.
E faz assim desde que sou menina.
Para eu não desistir de sobreviver.
Maquiando-me para não desmaiar.
Para eu pensar que nasci pra vencer,
pra ganhar, pra amar,
pra ser tão feliz quanto os outros parecem ser.

Não é que eu seja infeliz.
Não. Não é isso.
Absolutamente.
É que ultimamente, minhas mágoas não me têm deixado dormir.
E eu, as aceito, completamente.
Porque este é um tormento só meu e de mais ninguém!

Com os olhos bem atentos,
observo as más mágoas do lado direito do
meu travesseiro a noite toda.
Para que nenhum detalhe me escape.
Então, alguém aí, tem alguma idéia?

Sei que todo mundo passa na vida
por momentos difíceis.
E que não dá para avaliar o quanto o outro sofreu,
se foi mais ou menos.
Mas observar o sofrimento alheio nunca
me assegurou tranqüilidade, mesmo que tardia.

Sei também que nessas fases a gente aprende
algumas coisas sobre o nosso próprio comportamento,
que amadurecemos.
E que depois da tempestade,
vem à chuva fina, o chuvisco, a ventania, o céu nublado
e só então o esperado sol aparece.
Ufa! Finalmente.
Mas este blá, blá, blá não me comove nem locomove.
Porque a verdade é que eu não sei onde colocar
minhas mágoas queridas.

Também já pensei que talvez
eu não queira me desfazer delas.
Mas esta é uma hipótese que eu jamais vou admitir.
Afinal, socialmente isso seria um escândalo!
Já posso ler a manchete do dia:
“Garota branca e de boa aparência não quer se desfazer de suas mágoas”.

Colecionando cicatrizes.
Catalogando coisas tristes.
A melancolia me inspira.
Matéria-prima.
Assim, em mim seu tiro pegou de raspão.
E se era para ferir profundamente...
Saiu pela culatra.
Mostrou-me a força e a determinação necessária
e um coração trabalhando a mil por hora.
É por esta razão que chego ao início dos meus
vinte e sete com um enorme desejo de colocar
todas as minhas mágoas na estante da sala.
Bem pertinho do piano.
E toda vez que você tocar ali uma canção,
vou me lembrar que tudo aquilo,
já esteve dentro de mim.
Pode ser que eu ainda chore algumas vezes.
Pode ser que eu me arrependa.
Mas de qualquer forma, prefiro aprender a
conviver com minhas próprias dores a esquecê-las para sempre.
E o prazer, ao meu futuro pertence.
Afinal, amanhã é outro dia.

Alguém aí tem algo a dizer?
luizapannunzio@terra.com.br



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