Sunday, September 23, 2007

Maré baixa transborda um corpo meio vazio.

Olhos iguais ao horizonte do mar, rasos d’água salgada.
Ríspido respinga a lágrima.
E o sol, sal seca.
Transformando tudo em livros de areia.
Em palavrinhas ao vento.

A solidão experimentada pela primeira vez aos vinte e oito.
Antes evitada.
Evitando a si mesma.
Porque foi mais fácil viver assim.
Enchendo-se de nada e ninguéns.

Momentaneamente, ele não lhe serve, nem lhe faz muita falta.
Não correria este risco.
Escolheu seus vazios a dedo.
Tocando as texturas do que hoje é nada.
Pêlos.
Restaram coisinhas tolas.

Ela não se reconhece.
Mas procura a conexão em banda larga.
Porém, nada mais a toca. Não há som algum.
Em cada esquina padrão.
Transita.
Querências.
Nos cinemas que prefere ir bem desacompanhada.

Sabe que uma mulher como ela
não pode viver só de pão de queijo.
Nem da cerveja sem jantar,
seguida de oito cafezinhos puros com adoçante.
Cinco gotas. Um mojito para viagem.
Bem maquiada pra não desmaiar e
sorrindo porque alertaram, esta é sua vingança.
Tem facilidade para verbalizar os sentidos.
Dificuldades para respirar.
Portando, trava-se aí a primeira batalha.
Falar e respirar. Respirar e falar.
Contra também a ansiedade. Acelerada por nada.
Faz restar o nada, as dúvidas e por que a pressa?

Achava que não tinha problemas com rejeição.
Este sentimento de todos, qualquer um.
Mas tem! Sentiu envergonhadamente. Percebeu dias atrás.
Que ama sucrilhos com leite, danoninho e toddynho.
Pequenos prazeres.
Tem a estranha mania de falar tudo no diminutivo.
Diminuindo coisas grandes. Inclusive emoções.
Deixando tudo do seu tamanhinho.
Ao seu alcance.
Na altura de suas mãos,
na largura de seus passos atrasados.
Tem se perguntado, onde estava que
não ouviu aquela música na adolescência?
O que lia que não aquele livro?
Por onde andava que não naquela rua?
Tem se enchido de dúvidas e telefonemas mudos.
De mensagens que vão e não precisam de respostas.
Que se perdem como ela.
Tem se lotado de informações
que geram ainda mais dúvidas.
Para que servem?
Tem querido ser querida, mas sem querer, querer ninguém.
Vale?

Olhar o horizonte do mar.
Lembrar da canção de ninar que mamãe cantava para ela.
Do um pequenino grão de areia,
sonhador que se apaixona por uma
estrela e vive uma história de amor.
Acha lindo.
Desacredita.
Faz os olhos transbordarem.
Do sol, saldo vazio, da ansiedade de ninguéns.
Algumas dúvidas apressadas,
dos poucos pequenos prazeres no diminutivo,
um livro de areia de palavrinhas ao vento,
do grão um sonho ou pesadelo.
Toda história de amor tem final feliz?

Então não era amor.

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