Tuesday, July 01, 2008

Aconteceu no mês passado.

Como posso lhe agradecer?
Você já está me agradecendo...


Era um dia atípico.
Ela descia a Rua Augusta quando foi parada por
uma senhora muito bem vestida de cabelos curtos e olhos azuis.
_Tenho uma coisa para você que sei que está precisando.
Ficou um pouco assustada,
mas aceitou o convite para adentrar ao café de sua predileção.
_Um doppio? perguntou ela a senhora.
_Não, obrigada.

Sentaram-se na mesa próxima da entrada.
Para surpresa dela, olhos rasos d’água; aquela senhora judia
tirou da sacola uma pequena caderneta e
cinco medalhinhas com escritos em hebraico.
Repetiu-lhe convincentemente:
_Tenho aqui algo de que precisas. Algo que vai te curar.
_E o que é?
_Uma kabala.
A única coisa que a menina sabia sobre kabalas
era que a cantora Madonna as usava de alguma forma.
Sorriu. Adora!
Então, a senhora pediu que ela lhe estendesse a mão.
Obedeceu imediatamente porque não tem o hábito de questionar ordens.
Os olhos azuis fixaram-se na caderneta.
Os dela, para todos os cantos, inquietamente.

Pensamento: Será que esta senhora tem também
algo para o déficit de atenção? Podia... Pudera!

Seguiram longos poucos minutos de silêncio
que deixaram a menina muito apreensiva.
Era quase impaciência.
A senhora voltou os olhos azuis também já quase
transbordando em lágrimas para ela e de forma doce disse:
_São duas coisas bonitas que deram a você.
Auto-estima e busca espiritual. O que quer para agora?
_Auto-estima! respondeu com seu nó na garganta.
Não havia dúvida de sua escolha.
Aliás, quase nunca as têm.
Suas certezas, sua clareza, às vezes não lhe apetecem;
muito menos aos outros.

A senhora enfiou a mão de novo dentro da sacola e dessa vez,
de lá fez-se um cordão clarinho, da cor da pele dela.
Pendurou a medalhinha e colocou no pescoço da menina
que estava atônita, meio desconfiada,
mas querendo crer que aquilo tinha sim algum significado.

De fato, hoje ela anda melhor de sua primeira
crise de alta baixa-estima aos vinte e oito.
Parece piada de mau gosto, mas...
Feita de pontas agudas, a kabala que carrega no peito a pinica sempre.
Quando dorme, quando sai para correr debaixo da
garoa fria e fina de São Paulo.
O colar a pinica de madrugada, dentro dos bares,
dentro da blusa, do seu vestido mais solto.
Pinica também em momentos bem específicos, como o de ontem,
enquanto conversava de olhos fechados
com alguém que não quer mais ver.
Ele pinica!!!
Fazendo-a sorrir de leve.
Funciona!

E como resposta, a menina sussurra bem
baixinho sem que ninguém perceba:
_Auto-estima, sei que estás aí.


Obs. engraçadinha número 01:

Estes dias, ao chegar em casa depois do café da manhã,
a menina tirou a roupa com pressa e seguiu para o banho.
Estava atrasada. Mas antes de entrar no chuveiro quente
percebeu que tinha perdido seu colarzinho.
Desesperou. Quase chorou.
Voltou às roupas jogadas no chão, chacoalhou, olhou ao redor,
debaixo da cama... E só quando tornou a ficar em pé,
frente ao espelho do quarto, percebeu a kabala ali em sua cabeça.
Misturada aos cabelos que estão crescendo e enruivando de novo.
Aliviou-se. Riu sozinha. Sua auto-estima sempre esteve ali. : )

Obs. engraçadinha número 02:
Estes dias disse a ele num abraço:
_Corro das coisas que sinto.
E sinto muito, mas sinto muito.
Vou acabar virando maratonista!

Obs. engraçadinha número 03:

Elas falavam no trânsito intenso sobre o medo
que as pessoas têm hoje em dia de se expor,
de mostrar o que sentem e como se sentem.
Ficam aí, dosando amor com conta gotas.
Chamaram-nas de mesquinhas, de medrosas, cautelosas e corretas.
Ela então concluiu:
_E agora, vamos nós tentar viver como elas. É nossa meta!

1 comment:

Adriane Hagedorn said...

essa história é linda!

... e vamos quebrar os conta-gotas!!!