Saturday, November 03, 2007

Se antes eu sofria de ansiedade, agora sofro a falta dela.




Sem vontades de ninguém.
Enquanto as amigas inquietam-se
com o telefone que não toca,
com a mensagem que não vem,
ela não sente nada além de uma
tranqüilidade estranha e plena.
Enche a boca de conclusões obvias para
uma menina da maturidade dela e o
estômago com bolo de maracujá e chá de maçã.
Cheia de antibiótico.
Clindal AZ 500 é o seu nome.
Será que aqueles três comprimidos
alteraram sua disposição para o querer amar?
Ou melhor, para querer ser amada, ao menos desejada?
Ouvidos bem tampados, graças a Deus. Ela envergonha.
Estava achando a cidade muito tranqüila e calma.
O catarro entupiu as vias,
permitindo um silêncio duradouro e dolorido.
Latejante assim fazendo-me concluir que a coitada
escutou tanta merda esta semana, que foi isso...
Adoeceu.
“Merda!” É um superlativo fofo para o
fim de semana prolongado na cama!

Foi assim, uma vez sozinha no cinema
basta para querer ir sempre só.
Histórias impróprias para quem sofre de solidão,
mas ela não sofre desse mal.
Só, sabe que a fase é mesmo de perdas e
conformada como está, ganha peso.
Todos os que perdeu desde a separação.
Come bolinhos de arroz e de chuva sem ressaca moral.
Acha normal. Quase tudo.
É para ela um “tudo bem” insuportável
numa fase delicada ao olhar do próximo.
Ignora as recomendações de todos e dos guias.
Aliás, odeia avaliações alheias,
estrelinhas, satisfações dos outros.
Precisa ver para crer,
sentir na pele (como toda mulher de quase 30).
Quer sentir seus arrepios que até então eram da febre.
Sem cessar.
Foi um mar de filmes.

Iniciou-se com El Passado e passou bem mal com Gael.
Ele é lindo e come todas.
Ela quer um Gael só pra ela.
Aplaudiu Babenco. Agradeceu.
Entendeu boa parte dos erros que
ainda não chegou a cometer.
Pensou então, será que não amou de menos?
Culpou-se.
Queria ter sido inconseqüente.
Mas o que esperar de uma menina
que ainda não mandou ninguém pra
“Putaq’eupariu”, nem um “Vaitomarnoseucu” ela foi capaz.
Ela apenas sorri e quando alguém realmente a magoa,
reativamente seu corpo não quer mais se encontrar
com o corpo daquela pessoa. É simples assim.
Independe do seu ser racional. Chega ao físico.
Assim como a saudade. Desiste.

Seguiu em frente com Sexy and the City e confesso,
seus lábios esticaram pouco em frente a TV.
Achou de um feminismo machista chato.
Vai entender...
Depois foi a vez de Tropa de Elite no HSBC Belas Artes.
Aff! Não agüenta os bancos invadindo os cinemas...
Mas ela que estava sabotando este filme
pelo simples prazer em dizer,
“não, ainda não assisti”; não resistiu e rendeu-se.
Já era sabido, assinou assim a
sentença do papo chato na noite.
Além do seu signo eles já teriam a resposta
para a segunda pergunta mais feita ultimamente.
Segue o diálogo quase sempre igual,
fiel reprodução da realidade tal como ela é e acontece,
não é mera coincidência:

_Qual seu signo?
_Não acredito em signos.
_Mas vc não sabe qual é?
_É leão.
_Olha!!! Mas vc não parece de leão.
_Ah, é... Não?! Que pena. Ta aí, já comecei te decepcionando.

(sorriso)

_Nossa, vem cá... vc assistiu Tropa de Elite?
E a resposta nova seria,
_Sim belezinha, e vc?

(sorriso)

Ela é meiga. E depois de ver a Tropa passar,
sentiu ser uma mini delinqüente meiga
e sem carta de motorista.
E isso até os guardas da Barão de Limeira já sabem.
Tentaram deter a Adri só porque agora são muito amigas.
Diga-me com quem andas que lhes direi que és.
É bíblico?
Ela não acredita em nada.
A fase é mesmo de perdas e uma delas
é a fantasia de que está tudo sob seu controle.
Está tudo fudido. Ferrado. Perdido.
Um baseado, por favor,
ela quer matar mais algumas crianças...
Teve náuseas.
Chegou em instantes ao fundo do seu
poço artesanal de águas límpidas.
O Cheiro do Ralo foi o terceiro filme do feriado.
Já estava na cama e na cama com
Selton Mello é sempre hilário.
Chegou à conclusão que aquele
personagem é sua amiga Maira.
E que realmente, quando a gente percebe,
“os convites já estão na gráfica”.
É preciso cuidado extra.

Querô no Unibanco deixou-a tensa.
Mas sair do cinema e ir ao café a fez voltar à calmaria.
Cafeína e pimenta alegram a turma dela.
Beijos Proibidos [Baisers Volèrs],
do Truffaut foi fantástico.
Necessária doçura .
Interrompido pelo telefone dela que
ousou vibrar e tocar alto duas vezes consecutivas.
Logo o dela que não estava aguardando
nenhuma ligação importante.
Por fim viu Cartola, música para os olhos.
Em companhia da caixinha do suco de laranja.
Da vitrola quieta na sala ocupando seu espaço.
Dela.
Laço Vermelho. Ela fez um desenho.
Deixou o disco do Roberto girando por horas.
Vitamina C.
Sem vontade de ninguém ela parecia feliz na casa.
Estava irritantemente tranqüila, estranha e plena.

(sorriso)

Preocupante.
Lencinhos de papel espalhavam-se
delicadamente pelo quarto.
Ventava.
Um vento que levou seu pensamento pra
longe deixando de gorjeta um arrepio.
Da febre.
Sem cessar.
Sem culpa.

(sorriso)

2 comments:

Sofia said...

prazer, selton
ha
adorei
bj

julia p. said...

menina luiza. quase não tenho palavras pra isso aqui. me lembrou um monte de coisas, principalmente o exato meu momento de agora. Que também fora permeado por Gael, Selton e Cidade de Deus 2, ops, Tropa de Elite.
volto com certeza aqui.
e saio com um clap, clap, clap sonoro.

muito prazer.

(www.seeyouinthemorning.blogspot.com)