Saturday, June 13, 2009

Missão Cumprida.

Todas as manhãs, levanta bem cedo para correr.
Repete esta prática há pelo menos dois anos.
Faça frio ou faça sol, ela calça o tênis e sai rua afora.
De Ipod no ouvido para distrair.
Dando socos no ar.
É quase uma coreografia desajeitada.
Quando passa em frente aos guardas de esquina, disfarça.
Mas em seguida, relaxa e solta seus socos em todas as direções.
No alto, embaixo, em cima, de um lado, do outro.
É uma luta!
Ela luta sozinha nas ruas às seis da manhã.
Sim, sei que pode parecer loucura...
Mas não é! É apenas estranho.
Para quem a vê de longe.
Não à aqueles que a conhecem. Bem...
Nesta manhã de sábado ocorreu na cabeça dela uma dúvida.
Perturbadora que a acompanhou nos primeiros vinte minutos de suor.

Quem recebe estes socos teus?

Houve um tempo que ela sabia que todos aqueles
movimentos certeiros eram focados em seu próprio peito.
Numa tentativa de tirar de lá uma dor, um amor.
Mas e agora?
Contra o que estás lutando?
Encontra-se feliz. De novo amando, profundamente.
Não deveria então permanecer em sua cama quente,
em seus braços, entrelaçadas as pernas nas dele?
O que te move sair de casa às seis da manhã nesse frio do cão?
Se ao menos tivesse um cachorro para levar passear e fazer companhia...

Nesta manhã ocorreu nela esta dúvida perturbadora.
Seguida de uma longa resposta balbuciada
na praça enquanto dava voltas em si mesma.

Estou correndo do azar.
Dando socos nas lembranças que eu não deveria lembrar.
Lutando contra a preguiça. Meu dia-dia.
Contra a rotina. Meu cansaço.
O mau humor que em mim é nato.
Estou em guerra com a ansiedade. A normalidade.
E com a balança, quase sempre.
Estou socando aqui meus erros.
Afastando tudo aquilo que me incomoda
e buscando melhorar.
Estou matando um tempo só meu.
Aos socos e pontapés.
Respirando o primeiro ar do dia.
Desviando dos carros, buracos e pedras.
Estou atenta às seis da manhã.
Lutando simplesmente.
Assim faço todos os dias.
Porque a vida me ensinou que sem esforços
não chego a nenhum lugar.
Não nasci vencida.
Mas fizeram-me cheia de disposição.
É por isso que eu corro.


As sete e vinte ela já estava de volta em casa.
Saída do banho, preparava um café para dois.
Arrumada, maquiada e penteada para mais um dia.
Parecia meio igual aos outros.

3 comments:

Nina said...

Oi Luisa, adorei sua vó!
E o amor que vc nutre por ela e por suas lembrancas.
Um beijo!

Lari Reis said...

Adorei!
É sempre bom saber que a vida é uma guerra, e que vencer uma batalha não significa deixar de lutar. Mesmo na alegria, é bom pelo menos treinar, para afastar os males que sempre vêm.
;)

Anonymous said...

Se pudesse definir em uma palavra que a coubesse, diria intenso. Mas é mais do que isso. Adorei. Beijos