Monday, August 31, 2009

Dela.
















_Você está muito estressada!

Ela ouviu isso quando já estava dentro do elevador.
Atrasada, com uma sacola pesada nos braços e
a mochila nas costas, seguiu para o trabalho.
Crente que aquilo que acabara de ouvir,
não iria ajudar a melhorar seu humor.
Mas ok, o dia estava apenas começando.
Colocou o fone no ouvido com volume máximo
para que as buzinas e o barulho das
ruas não atrapalhassem seu caminhar.
Assim, sua vida naquela manhã tornara-se um clipe.
O clipe de sua música preferida!
Nada mal... Mas enquanto atravessava na faixa de pedestres,
onde um carro ocupava boa parte, constatou que ele tinha razão.
Ela não. Foram seus olhos que perceberam,
quase a matando de constrangimento. Lacrimejaram.
“É estresse!” eles disseram.
Estava estressada por tudo e por nada ao mesmo tempo.
E pior, estava atrasada.
Era como uma bomba relógio prestes a explodir.
Num sábado em que havia sol no céu.
O dia estava lindo, mas mesmo assim as lágrimas
não perdoaram e desceram. Fazendo as pintas dela afogar.
Disfarçadamente enxugou o rosto e pensou que a palavra
– estresse era demais. Muito pesada.
Portanto, cansada era mais apropriado. Combinava...
Também, pensando bem; era normal estar cansada.
Mas não estressada!
Trabalhando o quanto trabalhava,
tendo todos os compromissos que tinha,
as obrigações e ainda sentindo que não era capaz
de fazer mais, melhor ou o bastante.
Se cobrando tanto que chegava a doer na garganta.
E como se isso já não bastasse,
há dois dias decidiu que não queria mais
este fenômeno psicossomático de fazer inflamar
as amígdalas por conta de um estresse barato.
Barato ou caro não permitiria mais isso! Nada disso!
Passo a passo, a menina foi se dando conta
de que ele estava certo. Comparou-se às crianças
que possuem muitas atividades
(natação, inglês, judô, equitação, escola e tênis)
e que por isso ficam estressadas de verdade.
Foi uma tentativa de aliviar seu lado.
Mas não teve jeito. Ela não era mais criança
e isso tornava-a incompreensível, intolerável.
Foi preciso achar um culpado.
“É o estresse!” disseram seus olhos.
Aí, além do estresse sentiu culpa.
Inevitável.
Estava tudo ali dentro dela,
amontoado em seu peito. Desorganizado.
O estresse, o cansaço, a culpa, as lágrimas,
o nó na garganta e todas as incapacidades da semana.
Suas faltas, falhas e buscas.
Rendeu-se a quinze minutos de tristeza.
Era o único tempo que tinha para doer.
Ao chegar à Rebouças, se redimiu entre carros,
buzinas e o farol vermelho num tímido pedido de desculpas
que ele ouviu no mais absoluto silêncio.
Ela só disse isso, desligou em seguida.
Fazendo o clipe da sua música preferida
ter um final bem pertinente e pouco supreendente.
Bem vinda à vida real.

1 comment:

Anonymous said...

Gostei do blogue :)

bj